Presente de domingo

Toquei a campainha ainda que eu temesse que não houvesse resposta, e escuto ao interfone você com aquela sua voz de manhã de domingo ainda sem saber se esperava por alguém. Eu ri, sempre dou risadas ao te ver acordar.

- Sou eu meu amor, vim te entregar o que prometi.

Ainda odeio esse seu portão barulhento, que mais parece que vai acordar toda a vizinhança. Entrei, sem pensar muito, abri sua porta e encontrei aquela bagunça de sempre e o presente que eu te dei na quinta-feira e você teve pena de jogar o embrulho fora.

Meu amor veio rindo, na esperança de encontrar o presente de domingo, ou descobrir que hoje era alguma dessas datas comemorativas que eu não lhe dou tempo de esquecer e vou logo ligando. Beijou-me a testa e me lembrou o cheiro de rosas nos meus cabelos pela manhã.

Segurei sua mão e o levei de volta ao quarto, pedi que lá ficasse. Passei alguns minutos observando aquele lugar onde cada centímetro lembrava nossos momentos, onde eu podia ouvir nossas risadas assistindo aos filmes mais idiotas de nossas vidas, nossa primeira briga e tudo que dissemos um ao outro, pareceu ter durado uma eternidade. Assustado você abre a porta e tenta tirar de mim alguma palavra que explique meu choro compulsivo e o medo em meus olhos.

- Tenho medo de ir e não ver mais a sua meia jogada no meio da sala, o presente ainda com seu embrulho e que você esqueça do cheiro de rosas do meu cabelo.

O medo passou com o aperto de seus braços.

Não toquei a campainha, tive medo de te acordar, ainda conheço um pouco dessa sua vida de não parar em casa aos sábados. Disquei seu número na esperança de que você já estivesse acordado...

- Sou eu meu amor, vim te entregar o que prometi.

- Ele ainda está dormindo...

E não fim não restou meia na sala, abraço apertado e meu cabelo todas as manhãs cheirava a lágrimas.